Caito Maia tocava uma carreira musical e um negócio despretensioso de venda de óculos importados no início da década de 1990. Naquele tempo, um banheiro era a barreira física que existia entre os dois empreendimentos, que funcionavam em uma casa antiga na Pompeia, bairro da capital paulista.
“Olhava para a direita, tinham os óculos; para a esquerda, o estúdio onde ensaiava. E eu ficava pensando: ‘para que lado vou?’”, lembra o empresário, que pressentiu como promissor o caminho do comércio.
Sorte dele. A música ficou para trás sem a “menor frustração”. Já a empresa, chamada Blue Velvet, acabou por se tornar o embrião de sua próxima investida: a Chilli Beans, marca lançada em 1997 e que hoje é a maior rede sul-americana especializada em óculos escuros.
“Não sei explicar o porquê as coisas foram para um lado e não para o outro. Mas a minha intuição é muito forte”, afirma ele, referindo-se não apenas a decisão profissional, mas também ao que considera um dos segredos do sucesso da empresa. A Chilli Beans, em 2011, faturou R$ 284 milhões e deve crescer 36% neste ano. “Eu tenho um time que é racional. Tenho plano (de negócios) de cinco anos. Mas eu, em muitas das decisões, vou naquilo de levantar o dedo (para sentir a direção do vento).” Caito Maia participou do Encontro PME com pequenos empreendedores, confira agora os principais trechos.
Início
Formado em música nos Estados Unidos, onde morou por sete anos, Maia confessa que sua trajetória peculiar resultou em uma carência na área de gestão da empresa. Mas ele diz que contornou sua deficiência com a contratação de mão de obra especializada e, às vezes, cara.
“Não tinha formação acadêmica. As pessoas me perguntam se fez falta. Fez, sim senhor. Adoraria ter feito uma faculdade de Administração. Como solucionei isso? Contratando”, destaca. “Até brinco com meus dois diretores que trabalhavam na Refinações de Milho Brasil (atualmente Corn Products Brasil). Ou eu pagava os salários deles ou abria uma loja na Oscar Freire. Paguei os salários.” Ao que tudo indica, a estratégia foi correta. “Quando tinham umas 1,5 mil pessoas interessadas em franquias da Chilli Beans, e eu queria vender umas cem, eles disseram: ‘se você vender, em seis meses quebra. Vamos parar tudo, reestruturar e aí crescer’. Escutei os caras.”
Gestão
Extrovertido, Caito gosta de mostrar-se acessível às criticas, dúvidas e sugestões da base de franqueados e da equipe de colaboradores. Também afirma que, com exceção do departamento financeiro, está presente em todas as etapas da operação. Para ele, um empreendedor não pode distanciar-se do balcão. “Quanto mais eu toco no micro, o macro fica monstruoso”, afirma.
Foi assim que, há três anos, ele colocou em prática o projeto de visitar todos os pontos de venda da marca – atualmente são 460 lojas. “A partir do momento que se abre o canal para as pessoas falarem contigo, você mostra que não é uma pessoa distante, o dono, o presidente que se ‘acha’. Desde que começamos a chegar na loja e perguntar como estão as coisas, vocês não têm ideia do que a gente já mudou. Os funcionários se habituam a olhar para você e dizer: ‘com todo o respeito, isso aqui não vende’. Ai você fala: ‘desculpa, vou mudar”. Isso faz a diferença.”
Crescimento
A estratégia de instalar quiosques nos corredores de shoppings é tida como uma das contribuições da Chilli Beans para o modelo atual de comércio de algumas marcas e franquias. Por isso mesmo, para o empresário, apesar dos preços inflacionados, o empreendedor ainda encontra oportunidades vantajosas em alguns centros comerciais. “Se você quiser colocar um produto no corredor o seu risco é muito mais baixo do que colocar em uma loja”, explica. “Os preços hoje estão um absurdo, mas tem shopping em que você consegue se posicionar com preços que viabilizam totalmente a operação”, recomenda o empreendedor.
Sobre a expansão do negócio, Caito revela preocupação em não poluir o ponto de venda, ao passo em que admite a necessidade de incrementar o portfólio. “Temos os óculos escuros, relógios e óculos de grau. Nos outros canais, temos outros produtos, como cuecas, meias, lingeries, bicicletas, tudo isso licenciado. Eu tenho bolsa que vendo já faz um tempo. Estou louco para colocar dentro da loja. Mas eu ainda não consegui encontrar um jeito disso não poluir o ponto de venda”, concluiu.